sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O Pilar de Ferro de Delhi

"No átrio de um templo em Délhi, Índia, encontra-se um pilar construído com pedaços de ferro soldado, que há mais de 4.000 anos está exposto às intempéries, sem que mostre o menor vestígio de ferrugem: pois está livre de enxofre e fósforo. Temos aí uma liga de ferro desconhecida, proveniente da Antiguidade". – Erich von Däniken – Eram os Deuses Astronautas?


Ao ler atentamente o trecho acima uma pessoa pode ficar confusa: se a coluna é de ferro "livre de enxofre e fósforo" e está no átrio de um templo em Nova Délhi, como pode ser uma "liga de ferro desconhecida da Antiguidade"? Felizmente, nós não precisamos (e em verdade não devemos) nos limitar ao traficante de mistérios suíço.

O pilar de ferro de Delhi tem em realidade pouco mais de 1500 anos de idade. Com inscrições indicando que louvava o rei Chandragupta II (373-413), acredita-se que havia originalmente em seu topo uma imagem do deus hindu Garuda (deus-pássaro). O pilar revela o notável estado de desenvolvimento da metalurgia indiana da época dos Guptas (300-500), porém como diversos estudos demonstraram, não há nada de sobrenatural nele — ele não é de "ferro 100% puro" nem é uma "liga de ferro desconhecida da Antiguidade".

As explicações para o pilar de ferro estar de pé por mais de 1500 anos dividem-se em duas categorias: as condições ambientais e o material do pilar.

Já numa edição da Nature de 1953 estava publicado um trabalho de JC Hudson onde amostras de aço e zinco foram expostas ao tempo em Delhi, perto do pilar, e também em outros locais para uma comparação. As amostras em Delhi mostraram pouca corrosão. Durante a maior parte do ano, a humidade relativa na área é inferior a 70%, por meses significativamente inferior. Durante a maior parte dos últimos 1500 anos o ar também não esteve contaminado por dióxido de enxofre.

O trabalho do professor Ulick Evans pode chamar mais a atenção. Publicado em 1960, em parte da pesquisa pedaços do pilar de Delhi foram expostos a um ambiente industrial moderno poluído — e corroeram-se rapidamente. Assim, o ambiente onde está o pilar é um dos factores determinantes para que ele ainda esteja de pé.

Por outro lado, seu material também é um dos factores. Ao contrário das precisas informações de Däniken, ele contém fósforo e muito pouco enxofre, levando a um ferro mais resistente à corrosão (mas, como constatado, não tão resistente assim). A baixa quantidade de enxofre parece se dever ao uso de carvão vegetal ao invés de mineral para a siderurgia, enquanto a adição de fósforo parece intencional. Dizer que ele "não apresenta nenhum sinal de ferrugem" é enganoso, pois parte da resistência à corrosão do pilar deve-se justamente à ferrugem superficial, que forma um filme de superfície passiva (similar ao que ocorre no "aço inox", que em verdade oxida superficialmente).

Infelizmente o pilar de ferro de Delhi não é um artecfato da metalurgia Atlante ou um presente alienígena inexplicável. É uma combinação feliz de um ambiente apropriado e uma liga de ferro bem-feita, mas não incrivelmente avançada. Em verdade, o pilar não é nem mesmo o único artefacto de metal da época dos Guptas que resistiu até hoje.

Dizem que traz sorte abraçar o pilar de costas. Se você é um traficante de mistérios, abrace a lenda do inexplicável pilar de ferro indiano que não enferruja sem olhar para qualquer referência séria. Pode trazer algum dinheiro.


1 comentário:

  1. Grande blog, continue nos esclarecendo pois o que mais existe na internet são teóricos de conspirações, ocultismo e como você diz: "Traficantes de mistérios" obrigado!

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